12/04/2012

“O tempo faz com que fiquemos melhores”

Atriz Nicette Bruno brilhou na pele de Iná, a avó que todos gostariam de ter, e aos 79 anos prova que idade é uma questão de ponto de vista


Quem assistia todos os dias à dona Iná, na novela “A Vida da Gente” (Globo), pode deduzir que a senhora afetuosa e descolada das telas tem muito a ver com Nicette Bruno, a atriz que a personifica. E tem mesmo. Encantadora, simpática e atenciosa, a atriz de 79 anos conta que tem mesmo muito em comum com a avó da novela das seis. Apesar de ter crescido sob os holofotes – seu primeiro trabalho foi aos 4 anos – a atriz encara com leveza o passar dos anos. “Temos que ter a humildade de reconhecer os nossos erros. Não dá para ter a ilusão de que as pessoas são ou serão da maneira que você pensou, porque elas são diferentes.”

Ao mesmo tempo, ela usa a sabedoria que só chega depois de muito tempo de estrada. “Toda idade tem sua beleza e suas conquistas”. Nascida em Niterói (RJ), filha da cantora lírica Eleonor Bruno, a primeira aparição foi em um programa infantil na rádio Guanabara, em 1942. Estreou no cinema em 1947, ao lado de Tônia Carrero e Anselmo Duarte. Aos 20 anos, conheceu o ator Paulo Goulart durante os ensaios de um espetáculo teatral. Eles se casaram dois anos depois, e estão juntos desde então, consolidando-se como um dos casais mais queridos e duradouros no meio artístico. Juntos, têm três filhos – a atriz e diretora teatral Bárbara Bruno, a atriz Beth Goulart e o ator e coreógrafo Paulo Goulart Filho –, sete netos e duas bisnetas.

Intérprete de personagens marcantes na televisão – como a sofrida Dona Lola de “Éramos Seis” (Tupi, 1977) e a meiga Dona Benta de “Sítio do Picapau Amarelo (Globo, 2001/04), Nicette é grande incentivadora do teatro nacional. Ao lado da família, criou o Teatro na Universidade, que tem como objetivo levar cultura aos jovens. Em entrevista exclusiva à revista Estar Bem, a grande atriz brasileira fala sobre o segredo da longevidade e, claro, do sucesso na vida pessoal e profissional.

Estar Bem: “A Vida da Gente” é uma novela que fez muito sucesso. O que achou do seu papel?

Nicette Bruno: Estou muito feliz de ter feito parte desta história. Eu acho um projeto muito bonito, texto ótimo, direção afiada, elenco bem escolhido. A Iná era uma mulher dinâmica, antenada e muito corajosa, mas tem muitos problemas com a filha Eva [papel de Ana Beatriz Nogueira]. Por outro lado se dá muito bem com as netas e tem um namorado. Eu e o Stênio [Garcia, seu par romântica na novela] já fizemos muitos trabalhos juntos, este é meu terceiro par romântico com ele. Sempre tivemos uma boa sintonia. A novela fala de relações familiares e aborda as armadilhas que a vida nos coloca. Acho ótimo, porque trabalhamos com a emoção aflorada.

E.B.: Sua personagem escolheu envelhecer levando a vida com alto astral. E você, como encara o passar dos anos?

N.B.: Apesar da idade, ela é alegre, objetiva e direta. Temos muitos pontos em comum. Procuro encarar a vida com leveza, de maneira alegre, enxergando o lado positivo das situações, afinal nem tudo sai sempre exatamente do jeito que a gente queria ou imaginava. Como a Iná, eu também já sou avó e bisavó. Tenho duas bisnetas. Às vezes, paro para pensar e me surpreendo sozinha: meu Deus, a Bárbara [Bruno, filha mais velha da atriz] já é avó. Toda idade tem sua beleza e suas conquistas.

E.B.: Você é casada com o ator Paulo Goulart há 58 anos. Como manter tão bem essa relação?

N.B.: Acredito que o fundamental seja o sentimento e a sintonia entre o casal, entre qualquer casal. Eu e o Paulo somos diferentes em alguns aspectos, mas temos valores de vida comuns, bem parecidos. As pessoas se transformam com o tempo. Evidentemente, nós não somos os mesmos de 50 anos atrás. Mas eu acho que o tempo faz com que fiquemos melhores. A paixão e o amor estão ligados cronologicamente.

E.B: A sua personagem só queria namorar, considerava desnecessário se casar. O que acha disso?

N.B.: Eu sei o quanto é bom namorar e casar. Agora se é bom só namorar, eu não sei (risos). Eu e o Paulo estamos juntos há mais de 50 anos e no nosso casamento ainda há espaço para a surpresa. Ele me surpreende sempre. E eu, claro, também tento surpreendê-lo. Também respeitamos muito a individualidade um do outro.

E.B.: Esse respeito à individualidade é um dos seus segredos?

N.B.: É muito importante, acho que isso deve respeitado sempre, e não só no casamento. Com um amigo, por exemplo, também é preciso respeitar a individualidade, ser gentil, ter momentos de doação. Temos que ter a humildade de reconhecer os nossos erros. Não dá para ter a ilusão de que as pessoas são ou serão da maneira que você pensou, porque elas são diferentes. Acredito que quando um tem que mudar, modifica-se para uma melhor relação.

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